O que é, o mude de atitude

4. Março. 2006

Aproveitando ainda a posta do Tiago Alves, sobre o Movimento 560, passo a explicar o por ele considerado, tiques intervencionistas. A frase mude de atitude, é uma frase que se ajusta a uma perspectiva de visão de um povo, que sofre certamente de uma crise de identidade cultural, às vezes talvez até social. Não sou nacionalista, nem tão pouco radical, mas tenho respeito e consideração pelo meu país sem medo de o assumir, um país é um conjunto de culturas, hábitos, formas e estilos de vidas que embora muito diferentes têm uma essência e um ponto de partida muito semelhante, um país é uma comunidade com costumes, representações e modos de ser paralelos em vida social. Quando na comunidade em que vivo muitas das vezes se acha mal e isto a titulo de exemplo, uma quota de música portuguesa nas rádios do seu país, existem logo à partida dois pontos a sublinhar, o primeiro é que nós não conseguimos enquanto sociedade querer esse pedaço, o que prova a rejeição ainda que parcial da nossa cultura, o segundo é que por vezes já se torna estranho para nós ouvirmos a língua que temos, pois é tantas vezes de tal forma marginalizada e superada pela moda internacional, que o português que não for adepto da mesma sinergia exterior, é rotulado de xenófobo (palavras da moda). Eu estou num país em que se houvessem dois leitores de música precisamente iguais com nomes entre “cantigas” e “isound” o primeiro não teria venda alguma, porque o nome seria desadequado, manias de uma mentalidade fraca, que não sabe ponderar certos aspectos que são especialmente seus e de que se devia orgulhar, pois foram os pilares do que somos hoje e pelos quais caminhamos. Estou ainda num país onde se umas calças forem fabricadas numa fábrica têxtil portuguesa com o nome Setas ninguém irá comprar, mas se umas mesmas calças em nível de produção igual, fabricadas nessa mesma fábrica, com um rótulo a dizer Arrows estarão no topo de lista na compra, esta mesma ideia ainda irá servir mais tarde para fundamentar que as calças Setas, não prestavam, ou mesmo que o não fossem, seriam mais caras e não estavam no mesmo nível de competitividade. Estou num país onde se vestir uma t-shirt a dizer “Eu (seguido de um coração) Portugal”, sou saloio, mas que acho bastante giro, vestir ou ver alguém com que diz “I love UK”. Vivo ainda numa comunidade que muito se critica, mas pouco se faz, uma comunidade que gosta de se mostrar depressiva quando devia era levantar a cabeça, uma comunidade que não sabe o que é o valor social, o valor cultural, mas que quer evoluir e ser intelectual como tantas outras que ao contrário de nós começaram por polir e mostrar ao mundo os pilares em que se sustentam actualmente, agora questiono, vamos manter a atitude?

Artigo da categoria: Portugal

6 Respostas Comentar

  • 1. Tiago Alves  |  5. Março. 2006 - 19:15

    O mude de atitude tem então uma maior abrangencia. Tudo bem. Não sei se será mentalidade fraca se será medo do próximo. Portugal é, como diz Jose Gil, um país de invejosos. Todos têm medo da comparação, e por isso parece que evitam a competição e tudo aquilo que sirva para descriminar resultados. Talvez pensem que não conseguem (a tal mentalidade fraca..), ou talvez não..não sei.

    Só para rematar, aquela das quotas de musica portuguesa. Ouvi muito boa gente a dizer que era uma boa medida. Na minha opinião não é: é limitar a escolha. Emtão agora o Estado já decide o que eu quero ouvir ? As radios devem colocar as musica que acham que o consumidor gosta. Se o consumidor não gosta de musica portuguesa não ouve! É mais uma maneira de tentar impôr aos consumidores produtos nacionais sem ser pela via da qualidade e da satisfação. É isto que, por vezes, tambem se pode interpretar do Movimento. Por isso prefiro insistir na argumentação da informação como a grande mais valia da iniciativa

  • 2. Pedro Cavaco  |  5. Março. 2006 - 21:11

    Nesse caso então, pegamos no prato, embora pitoresco, que também deviamos aprender inglês e não português se assim o preferissemos… isto só exsite porque os portugueses não conseguem gostar “deles” próprios… é triste impor sem dúvida, mas também é um crime a des-culturização que este país tem, além do mais tu não escolhes a música que passa na rádio, ouves o que a editora que mais pagou à estação, impôs. És sempre livre de comprar as músicas internacionais que gostas ( e atenção que vão continuaram a passar em maior percentagem) , tal como aprender linguas internacionais se assim o entenderes.

  • 3. Tiago Alves  |  7. Março. 2006 - 9:02

    Ouço as musicas que a editora que mais paga quer mas, se não gostar das mesmas, mudo de estação. Se todas as estações passam a estar obrigadas a passar 25% de portuguesas, então a minha escolha fica adulterada. O prato pitoresco não tem razão de ser porque nós aprendemos português antes de termos idade e consciencia para decidir por nós mesmos. Também sei que sou sempre livre de comprar mas não é isso que está em causa. A rádio é a rádio, o leitor de cd’s é o leitor de cd’s

  • 4. Pedro Cavaco  |  7. Março. 2006 - 19:57

    Mudas de estação e o que encontras além disso, mais do mesmo, do mesmo cheque… A tua escolha fica adulterada? Desculpa mas não fica, simplesmente passas contar com uma coisa que é desprezada na sua própria casa, a tua música, a música portuguesa. Mas é assim tão aberrante ouvirmos uma x % de música portuguesa em Portugal? Se não tivessemos o critério idade deveriamos poder aprender inglês em vez de português na primária, suponho… a liberdade é muito boa sem dúvida mas a cultura também nos faz muito bem, não incomoda minimamente, passar a ouvir mais música portuguesa nas rádios e sinceramente não percebo porquê já não aconteceu antes, já era lei mas ninguém cumpria, agora existe uma entidade para isso, tudo se queixa. É a tal mentalidade, credo que agora vão por mais música portuguesa na rádio, que falta de democracia queres ver… Nos paises culturalmente e socialmente mais cultos que o nosso vê-se o reverso, em vez de contestado é apoiado, será tudo por acaso?
    A rádio é a rádio bem dito e portanto passa a ter novas regras, quem quizer ouvir mais internacional (tal como até por vezes vou querer) passa a comprar o cd ou mp3, não é crime e até faz bem. Talvez venhamos a ver discutir esta nova medida daqui a uns anos e a apurar resultados ou mentalidades.

  • 5. Tiago Alves  |  11. Março. 2006 - 13:26

    Entendes a cultura como algo que é necessariamente bom e da qual todos sentimos necessidade. Eu digo que não. Que tal como muita gente não gosta de futebol, de política ou de ler, tambem não gosta de cinema, teatro ou musica portuguesa. E não deve por isso ver a sua esacolha limitada por haver alguem que se sente meio iluminado e que decide, por cada um de nós, o que devemos ou não ouvir, o que é bom ou não para nós. Já vi que concordas um pouco com isto, (“a liberdade é muito boa sem dúvida mas a cultura também nos faz muito bem”), e consegues até numa frase colocar a liberdade num patamar igual ou inferior à cultura. Assim sendo, e com todo o (óbvio) respeito pela pretensão de ter um ente superior (o Estado) que, em nome do bem comum (brr…), controla as nossas escolhas, a nossa discussão não chegará a uma síntese, pela discordancia neste ponto base e fulcral.

    p.s. a proposito, não sei se ja leste o segundo texto do dos santos no my guide, em resposta ao meu. tal como eu te tinha dito, ele foi ver o site do movimento e tudo isso :)

  • 6. Pedro Cavaco  |  11. Março. 2006 - 14:50

    Tiago, a cultura não é so ir ao cinema, teatro e ouvir música, cultura passa também pelo desenvolvimento intelectual e saber e isso não se ganha somente ido a esse eventos. Ninguém se sente iluminado ao por uma quota de % de música portuguesa na rádio, agora eu questiono-te da seguinte forma: Eu vivo numa vila azul, ali tudo é azul e temos uma certa têndencia nesse costume, certo dia vem um pato da cultura vermelha que por sinal tem bastante dinheiro e desenvolvimento na sua vila e “ordena monetariamente” que a radio da minha vila só irá passar musicas vermelhas, eu sinto-me prejudicado pela liberdade/ou monopolio dele e alguém me ouviu? alguém quis saber disso? passei a ouvir 90% de musica vermelha e perdi o contacto com a música azul que gostava, se quisese ouvir mais música azul tinha que comprar um cd, ou ouvir um mp3, alguém pos um equilibrio nisso? não! Agora o ministro da minha vila disse, sim senhora, ouvimos musica vermelha mas pelo menos 40% tem que ser azul, agora pessoas como tu acusam-no de estar a tirar a liberdade de escolha… Existe uma coisa que tens de diferenciar, liberdade de monopolio e cultura, de cinema muisca e teatro, a cultura é muito mais além disso e uma herança cultural deve ser preservada melhorada e adaptada, mas não marginalizada. E não “remates” que existem várias rádios com música portuguesa, porque nessa altura eu respondo-te que continuam a existir rádios com música não portuguesa como sempre houveram, estamos agora mais perto dum equilibrio músical e nesta vertente cultural, e quem não gosta tem que pensar que existe a outra face da moeda que também não gostava de como estava, isso sim, respeito.

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